O pior efeito da pandemia é a estupidez
Tive alguns posts apagados em um grupo que participo de um Clube super bem conceituado
. Escrevi a respeito, e o próprio comentário foi denunciado e apagado. Por esse motivo estou reproduzindo aqui para quem se interessar: Ciência, ciência, ciência. Podemos usar esse mantra, que está em alta, para corrigir alguns rumos da medicina. Vamos finalmente banir da humanidade a homeopatia, a acupuntura, a medicina tradicional chinesa, a medicina ortomolecular, a antroposofia, os Florais de Bach, as orações, as benzeduras, o Santo Daime, a cromoterapia, as pajelanças, as curas espirituais e até a psicanálise, pelo bem dos pacientes e desespero dos negacionistas. Será? Um ótimo profissional de saúde não pode costurar relacionamentos e aprendizados aplicando tudo isso em prol dos pacientes ?
A prática da medicina é muito mais complexa do que apenas seguir receitas saídas dos laboratórios. O bom médico é aquele que une o vasto conhecimento obtido através da ciência com sua própria experiência clínica. Eu mesmo, um ateu, totalmente ciente do caráter não científico nas diluições infinitesimais da homeopatia, dos meridianos energéticos da acupuntura e do modelo estrutural da psique humana, dividida em Id, ego e superego, encorajo pacientes a continuarem com seus tratamentos paralelos à medicina, por perceber que muitos apresentam resultados finais positivos, e cujos mecanismos parecem estar muito mais relacionados ao próprio paciente do que aos procedimentos.
A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona muitas incoerências que antes pareciam não incomodar as pessoas, e qualquer questionamento passou a ser visto como um caminho perigoso que colocaria em risco a saúde do indivíduo e da sociedade. Como pouco se pode fazer contra um vírus novo, cuja própria dinâmica ainda é pouco conhecida, a comunidade científica, ao ser alçada à posição de Grande Salvador, passou a propor procedimentos – muitos baseados em epidemias virais do passado, e outros totalmente aleatórios – enquanto se apressava a produzir estudos científicos aos montes, para corroborar ou afracar o que já estava sendo feito.
Os bons cientistas nunca deixaram de esclarecer o caráter não definitivo do que era dito, mas como isso não cumpre o papel inquisitivo sobre a população, foram aos poucos perdendo espaço na mídia. Mesmo os médicos com vivência clínica, que sabem a impossibilidade de colocar em prática tudo aquilo que seria desejável, e a importância do caráter humano dos cidadãos, e que por esse motivo pareciam titubear ao orientar de modo autoritário a população, perderam a cadeira nos estúdios e redações dos jornais.
Sobraram cientistas de laboratório, sem experiência clínica, notadamente alguns biólogos epidemiologistas com boa capacidade de comunicação, como Natália Pasternak e Átila Iamarino. A divulgação maciça de um suposto conhecimento científico, como se a ciência fosse um balde de verdades, e procedimentos rígidos para “combater” a pandemia trouxe conforto aos âncoras dos jornais e aos leigos, e qualquer questionamento passou a ser visto como um atentado à saúde pública. Irônico como a ciência passou a ser tratada como dogmática, algo que ela repele por definição.
A guerra contra o vírus ganhou um caráter vital, sobrepondo-se a direitos fundamentais como a liberdade individual e a liberdade de expressão, e atos antes impensáveis como a censura incondicional de idéias, foram sendo aceitos como algo normal, ou até necessários. O retrocesso é assustador. A Revolução Científica de meados do século XVII que deu à humanidade um salto fantástico em termos de qualidade de vida e conhecimento, se caracterizou pela noção de que não há uma verdade absoluta, como aquela proposta pela igreja, e que a dúvida leva à curiosidade e à busca de explicações melhores.
As pessoas que se sentem confortáveis ao perceber que tudo aquilo que lêem nos jornais combina com os mantras dos biólogos blogueiros, passam a viver um desconforto muito grande quando algumas dessas verdades são questionadas, e tomam atitudes inacreditáveis. Ao serem estimuladas a comentar um gráfico comparativo entre a evolução da pandemia na Flórida e na Califórnia, onde a primeira apresenta uma curva muito mais benigna que a segunda, com comportamento diametralmente oposto às medidas de distanciamento social e uso de máscaras, a reação imediata é a denúncia, pedido de exclusão do post e banimento de quem indagou! As pessoas estão enlouquecendo, estão ferindo umas às outras, se atacando. Algumas evitam sair de casa para tudo, já outras saem sem o mínimo de cuidado e ambas acham que estão totalmente certas e pior, com direito de atacar umas às outras. Se alguém de repente faz uma compra de uma roupa para ajustar para ir a um evento, logo tem sua atitude escancarada em grupos de Whats app e por aí vai.
Não devemos ficar curiosos com esse fato? Ou com o fato de que alguns países que instituíram os lockdowns longos e rigorosos como o Peru estarem entre os que tem maior número de mortes por milhão? Eu diria que é dever do cidadão do século XXI ter esse senso crítico e vocação para o debate. Obviamente que a separação física entre um indivíduo contaminado e outro sadio impede a transmissão do patógeno.
Então porque as coisas não acontecem como queremos? Porque a Inglaterra, no seu quarto ou quinto lockdown, continua com uma segunda onda de contágio assustadora, e os procedimentos são mantidos? Será que, assim como um clínico sabe que alguns de seus pacientes com DPOC não deixarão de fumar quando orientadora a fazê-lo, independentemente do que encontrarão no futuro, a população como um todo jamais irá abandonar sua liberdade de ir e vir e conviver socialmente?
Será que a queda imunológica causada pela depressão psicológica decorrente do isolamento se sobrepõe aos benefícios do distanciamento? Acredito que teremos essas e muitas outras respostas em 5 ou 10 anos. Foi assim com a pandemia do HIV, doença para a qual nem vacina temos ainda, diferentemente do que ocorre hoje com a COVID. Sou um leitor ávido, um viajante incansável e um observador atento. Apaixonado por debates e aberto a opiniões divergentes. Tenho alguma experiência em determinadas áreas do conhecimento humano e pouca em outras.
Tento escrever textos que estimulem o questionamento, e fico aguardando aprender com comentários inteligentes. A tragédia de Manaus não sai dos jornais, como alerta para quem questiona o isolamento. Como conheço muito a medicina exercida por lá, de qualidade ruim, com hospitais mal equipados, superlotados e onde a mortalidade é incrivelmente alta, chegando a 50% dos internados em enfermarias e 80% em pacientes de UTI, coloquei um link de uma reportagem do Estadão a respeito: fui imediatamente denunciado e excluído.
É muito mais fácil dar um like em um post de alguém como a Dra Maria Teresa , adoradora de Greta Thumberg que apoia o fechamento dos chuveiros nos vestiários, o que não faz sentido algum do ponto de vista microbiológico, do que comentar fatos aparentemente inexplicáveis. Posso afirmar que essa política de denúncias de idéias, cancelamentos, exclusão de posts e banimento de usuários tem como resultado um Mundo pior.
Muito pior.